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António Joaquim
Sampaio de Andrade Neves |
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irmão Manuel. Especialmente na difícil arte da Navegação, com muitas dúvidas iniciais colocadas pelo Ramo, com muitos cépticos pensando impossível ensinar, em apenas seis meses, matérias que os cadetes do QP aprendiam e praticavam durante três anos. Na Fragata “Diogo Cão”, primeiro navio onde embarcou após a promoção a Aspirante RN, recebeu do respectivo comandante, CFR Aníbal Barros de Almeida Graça um louvor, mandado averbar na Ordem da Armada e no processo individual pelo VALM Chefe do Estado-Maior da Armada e no qual se escreve, em 3 de Outubro de 1960: “Usando da faculdade que me confere o artigo 120º do RDM, louvo o aspirante RN António Joaquim Sampaio Andrade Neves pelo espírito de sacrifício, elevada compreensão dos seus deveres, espírito de equipe, muito zelo e brio militar, demonstrando com tal atitude que bem pode ser apontado como exemplo”. Noutros navios embarcou António Andrade Neves durante a permanência na Marinha – Fragatas “Nuno Tristão” e “Diogo Gomes”, Contra-torpedeiro “Tejo” e Draga-Minas “Corvo”. Dele disse, o comandante da Fragata Diogo Cão, que tinha condições, sendo ainda aspirante, para chefiar o Serviço de Navegação do navio. Disse-o em informação oficial.
Anteriormente ao período iniciado em 1959, na Marinha, tivera uma experiência de ligação às Forças Armadas ao ingressar, em 15 de Outubro de 1956, no corpo de alunos da Escola do Exército. Abandonaria, porém, esta Instituição, entrando de licença registada em 6 de Agosto de 1957, aumentado desde esta data ao efectivo do Batalhão de Metralhadoras n.º 1. A data de alistamento na Reserva Naval coincide com a data em que levou baixa deste Batalhão – 31 de Julho de 1959. E afinal, porque decidi deixar aqui o meu testemunho à memória de António Andrade Neves? Tão só pela lição de coragem que me deu, já perto do seu final de vida. Estávamos em Fevereiro de 2000. Por esses dias realizar-se-ia um jantar comemorativo da incorporação do seu curso da Reserva Naval, num restaurante em Lisboa. Havia ainda quem, para além de o desejar, pensasse que a sua presença seria possível. Não era, embora talvez em nenhuma outra ocasião a sua presença fosse tão evidente. Um telefonema fez-me deslocar a sua casa, na rua do Quelhas, n.º 65 e ele próprio me abriu a porta. Convidou-me a entrar para a sala e sentados, um defronte do outro, lança-me a pergunta: - Estou muito diferente, não estou? Estava, efectivamente, muito diferente. Fisicamente, muito diferente. Mas a pergunta deixou-me antever que a minha resposta teria de estar de acordo com a presença de espírito que ele demonstrava, misto de desinibição e de conformismo, formulada em tom calmo, mas certamente esperando sentir da minha parte disponibilidade para uma conversa diferente. Assim foi. Ao longo de mais de uma hora, e não mais porque era visível o seu cansaço, falou muito mais do que ouviu. Para meu enriquecimento, porque pela primeira vez me encontrei na situação de, competindo-me a mim encontrar as palavras adequadas, ser exactamente da sua parte que elas vinham, com uma coragem e uma fé extraordinárias, transmitindo esperança, sabe Deus com que convicção. Sem dramatizar, sem lamentar, conformado com a situação e simultaneamente com pena de não ter ainda concluído muito dos seus projectos de vida. De entre eles, o aprofundamento do seu conhecimento sobre a cidade de Lisboa, paixão que me revelou com grande entusiasmo. - Deram-me um mês e já passaram cinco. Já tive piores dias. O tempo corre a meu favor! Mas não corria a seu favor. Corria simplesmente de forma inexorável, muito rápido. Dolorosamente rápido, sem dar tempo à concretização dos sonhos ainda não realizados. - Peço-te que vás ao jantar do meu curso e lá expliques a minha ausência. Diz o que entenderes dizer, que certamente será o adequado. Ainda hoje me pergunto porque teria de ser eu a representá-lo nesse jantar? Porque da primeira vez que me convidou para sua casa, termos abordado tempos de Marinha e aí alguma faceta nos ter aproximado? Talvez.
Nessa tarde em que pela última vez falámos, ainda mais alguns minutos para legendar fotografias onde aparecia com camaradas do curso, algumas que separei para ilustrar esta fraca referência à sua memória. Coloco-as aqui, respeitando a escolha, como se este texto fosse um trabalho conjunto, quase certo que o seu último trabalho. Não sou de ladainhas comuns, quando se trata de trazer à vida memórias poucas vezes referidas. O simples facto de lembrar António Andrade Neves, passado que estão mais de seis anos desde a nossa última conversa, ajudará certamente a que não seja esquecido.
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