NOTAS SOLTAS SOBRE UM HOMEM EXCEPCIONAL, CIDADÃO DO MUNDO
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Continua
a ser muito difícil, para mim, falar publicamente do
António, Max para os amigos, porque se mantém incólume a
dor da sua ausência.
A sua partida brutal, transformou-me numa pessoa mais
triste e mais pobre...
António era um Ser Humano de excepção, como “pai”, como
marido, companheiro, amigo, como Homem!
Amava a
vida, adorava a família, dava a vida, a liberdade, o
conforto pelos amigos e por aqueles que respeitava e
admirava!
Tinha uma
inteligência viva e criativa que sempre colocou à
disposição da sua profissão, que muito respeitava, e da
família e amigos que adorava. |
Tinha uma boa disposição
permanente, um humor fino, crítico e perspicaz!
A sua luta era a da defesa dos direitos Humanos. Preocupava-se e
buscava em toda a sua vida, pessoal, profissional, social e
expressão política, uma justiça de rosto humano, de e para o Ser
Humano concreto!
Os seus últimos anos de vida dedicou-os à defesa dos direitos
fundamentais do cidadão e prestígio das forças de segurança, que
considerava essenciais à concretização de uma sociedade
intrinsecamente democrática e de direito.
Pelo comportamento dos seus agentes, que desejava respeitoso,
educado, cumpridor dos deveres de cidadania e de autoridade para
com os cidadãos, pretendia o prestígio do País, internamente e
além fronteiras, alcançar o respeito dos cidadãos para com uma
polícia, que queria cada vez mais próxima do colectivo que
somos. O seu sonho, e creio que o alcançou, foi alterar o
sentimento de “medo” do cidadão para com a polícia pelo de
segurança, conforto e confiança.
Que uma criança, um jovem, um cidadão que visse um polícia se
sentisse protegido e confiante e não receoso, ou até com medo,
era o seu maior anseio, como frequentemente dizia.
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O jovem
Max |
O
cadete Rodrigues Maximiano |
Na sua
casa, o jovem casal, Cândida Almeida/António Rodrigues
Maximiano |
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“Ficarei satisfeito quando o velho
hábito de se ameaçar com a polícia a criança que se porta mal for
substituído pelo conselho, de, se sentir desprotegido ou inseguro,
vai ter com o(a) polícia”, repetia.
Hoje, estaria concerteza, feliz porque o seu objectivo de vida e de
trabalho se vem alcançando cada vez mais visivelmente.
Como Ser Humano, era de especial elevação.
Reconhecia o mérito dos outros, elogiava-os, crescia com eles! Por
isso que uma particular amiga e sua colaboradora dizia que o António
conseguia que as pessoas que com ele trabalhavam se sentissem
fantásticos e excepcionais no desempenho!
Em casa, conjugava a sua humanidade, a sua sensibilidade, o seu amor
pela família, pela Natureza, pelo seu espaço, pela beleza do seu
cantinho em Galamares, com uma inteligência superior, prática e
disciplinada.
O que era para fazer, era já e não amanhã. Era implacável nessa
decisão.
“Amanhã posso esquecer-me ou ser tarde demais”!
Acarinhava uma flor, tratava do seu jardim, perdia-se no gosto pela
pintura e leitura tanto quanto era inflexível na denúncia da falta
de carácter de uma pessoa.
Frontal, demasiado brutal, por vezes, não perdoava a mentira, a
traição, a ambição desmedida e sem princípios, não admitia faltas de
carácter e baixeza de procedimentos.
Tanto, quanto admirava, respeitava e elogiava quem era leal,
corajoso, lutador e defensor de princípios que entendia iluminar a
vida de um Ser Humano.
Solidário, companheiro, sincero, amigo sem limites ou
condicionantes! Determinado.
Amante da beleza e da natureza humana.
A pintura, a poesia, a escultura, a verdade, a amizade, o amor, o
profissionalismo.
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Cândida Almeida e Rodrigues
Maximiano em viagens com a filha,
enquanto criança e já na
adolescência |
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Era um Homem das grandes decisões,
definição e luta pelos objectivos estratégicos que definia, amante
da discussão jurídica e descoberta de novas soluções justas e
especificamente adequadas ao caso concreto. Sempre determinado e
sempre na primeira linha na defesa da Vida, da Família, dos Amigos
da transparência, da Verdade!
Um dia um amigo propôs-lhe escrever umas palavras para apresentação
de um livro sobre a obra do pintor Luís Ralha. António tinha por
este artista excepcional uma admiração e um carinho indescritível.
Íamos de férias. Em Espanha, quis, desde logo, anotar os tópicos
para a sua reflexão. Onde quer que estivesse, surgiam-lhe os
pensamentos, os raciocínios, as decisões, as hipóteses, os juízos. E
de uma beleza e profundidade sufocantes! Não escrevia bem! O
formalismo da prosa não se compadecia com a sua fulminante e
fulgurante imaginação, com a sua particular e excepcional capacidade
de fazer brotar do pensamento a ideia certeira e profunda, mas
sempre embrulhada numa carícia e ternura, só possível num Ser Humano
como ele. Incapaz de ele próprio escrever a sua prosa, ditava-a a
mim, aos amigos...
As suas ideias, os seus pensamentos, traduziram sempre a poesia que
lhe ia na alma! Até os textos de direito eram impregnados de
Humanidade, preocupação com o Ser Humano que erigia como deus do
mundo e da vida.
Voltando à introdução da obra de Luís Ralha, em Espanha, em férias,
“obrigou-me”, no 2º dia de estadia, a recolher, em papel, tipo
“spots”, o seu pensamento e os seus sentimentos sobre o Artista!
Fiquei estupefacta pela torrente de palavras que do seu pensamento
brotavam, como rio que corria largo e rápido para o mar – foi a
imagem que me ocorreu – de uma beleza, de uma força, e simbolismo só
possíveis num Homem único, no seu amor, na sua entrega à vida que
amava.
Os jovens ouviam-no, procuravam-no, admiravam-no e o António sempre
feliz e bem disposto, distribuía-lhes esperança, princípios e
valores nas suas conversas envoltas em ternura e carinho. Temas como
a História, a Filosofia, a Poesia, a Pintura, os direitos da
diferença e das minorias, os princípios e valores universais por que
cada um devia lutar eram recorrentes nas suas conversas!
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Numa
recepção, o casal Cândida Almeida e
António Rodrigues Maximiano
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Como Ser Humano, obviamente tinha os
seus defeitos e cometia erros, mas perante a sua grandeza, dimensão
humana, superioridade intelectual e capacidade de amar e ser
solidário, posso dizer que o seu defeito maior era não
contemporizar, perdoar ou minimizar a mediocridade, a ambição
desmedida, a cobardia, as pessoas sem verticalidade e mercantis nos
seus princípios e valores.
Então, era quase cruel. Por isso que deixou um rasto enorme de
admiração, respeito, amor, amizade e saudade na generalidade de
todos quantos o conheciam ou com ele privaram e um pequeno ciclo de
gente menor que nunca lhe perdoou a franqueza, e a frontalidade, a
sinceridade e a avaliação realista mas radical, com que tratava os
assuntos que considerava fundamentais e essenciais a uma vida feliz,
aberta, fraterna e humanista.
Adorava a sua profissão de Magistrado Público, que abraçou conscientemente,
querendo fazer dela uma referência para o País e desenhar para os
seus agentes uma intervenção, iniciativa e imediação que espelhasse
um Magistrado Público, como magistratura democrática e autónoma orientada sempre
em busca do farol da Liberdade e da Justiça concreta para o Ser
Humano concreto.
Envaidecia-se por ter prestado serviço militar na Marinha e
orgulhava-se de fazer parte do grupo fundador da AORN que liderou.
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Gostava de trabalhar em colectivo, com disciplina e objectivos
claros e bem definidos.
É inevitável surpreender na forma de estar e actuar, tanto na sua
expressão profissional quer na sua vertente privada, uma matriz e
influência fundamental que a sua passagem pela Marinha deixou
cinzelada indelevelmente nos princípios e valores que sempre o
norteou e acompanhou até à sua partida.
A camaradagem, a solidariedade, a lealdade e a coragem que
enformaram a vida de António Rodrigues Maximiano são virtudes que
(re)colheu e desenvolveu com a sua passagem pela Marinha que sempre
honrou, defendeu e de que se orgulhou e envaideceria.
Enfim,
São desajeitadas, insuficientes e anárquicas estas pequenas notas
sobre um Ser Humano que tanto amou a vida mas, falta-me o “engenho e
arte” para expressar a minha admiração, amor, respeito e saudade por
quem tanto me deu. |
António
Rodrigues Maximiano e a AORN
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Foto
do grupo de fundadores da AORN -
Associação dos Oficiais da Reserva
Naval, com destaque fotográfico em
baixo, à direita, para António
Rodrigues Maximiano
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António
Rodrigues Maximiano integrou um grupo de
antigos oficiais da Reserva Naval que
fundou a AORN - Associação dos Oficiais
da Reserva Naval, em 14 de Julho de
1995, tendo sido Presidente da Direcção
desta associação até Março de 2002.
Foi procurador geral adjunto, tendo
exercido o cargo de Inspector-Geral da
Administração Interna (IGAI), de 1996 a
2005.
Pautou a sua
acção, por critérios bastante exigentes
na actuação das forças policiais.
Jubilado em 2005, foi ainda vogal do
Conselho Superior do Ministério Público
culminando uma carreira brilhante ao
serviço da Magistratura.
Dinâmico e emotivo, era dotado de um
sentido crítico e inteligência notáveis,
conferindo-lhe grande acuidade e
acutilância profissionais, qualidades
que colocou permanentemente ao serviço
da cidadania que defendia, no combate à
corrupção.
Oficial da Reserva
Naval da Marinha de Guerra do 20º CFORN, ingressou
na Escola Naval em 1972. Promovido a Oficial no
mesmo ano, foi destacado para o Comando Naval de
Angola onde desempenhou as funções de Chefe dos
Serviços Jurídicos, até Novembro de 1974.
Sob a sua direcção, foi efectuado o levantamento do
auto de averiguações em que morreu, em combate, o
2TEN FZ RN António Bernardino Apolónio Piteira.
Entre amigos, que até colaboravam na manutenção e
desenvolvimento do seu gosto por gravatas
extravagantes, com algumas imitações humorísticas,
era familiarmente conhecido por “Max”.
Vítima de
doença prolongada, faleceu em 16 de Março de 2008 e
a Reserva Naval ficou
mais pobre por ter perdido um Camarada, um Dirigente e
também um Amigo.
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Manuel Lema Santos
8º CEORN |
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