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António Bernardino Apolónio
Piteira |
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profundamente marcou quem o conheceu. E curiosamente, não pela sua acção de forte liderança ou de imposição de vontade superior aos demais, mas apenas pela sua simplicidade e simpatia. Normalmente, as recordações pessoais perduram quando assentam em acontecimentos relevantes que transformam a rotina de cada um, pela positiva, ou até quantas vezes pela negativa. Raramente tendo a sua origem em actos de simplicidade, em manifestações de camaradagem, em amizade desinteressada ou na simples e contagiante alegria de viver. Muito forte foi António Piteira, em vida, para manter entre os seus amigos o sentimento de tristeza e o carinho comovido que todos continuam a manifestar decorrido tão longo período. Quantos o conheceram de perto traçam o retrato fiel da sua personalidade, mais do que usando adjectivos “difíceis”, apenas com o sentimento da saudade. Natural da freguesia da Quinta do Jogo, do concelho de Arraiolos, onde nasceu em 11 de Outubro de 1947, era filho do Senhor Augusto da Silva Piteira e da Senhora D. Balbima Rita Apolónio. Deu os primeiros passos, no ensino, nas Escolas da região e por aí se manteve até ingressar na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. A incorporação militar na Escola Naval interrompeu-lhe o contacto académico, iniciando-o numa nova fase a que se entregou com contagiante entusiasmo. Marcou camaradas e por estes foi promovido a figura de proa na qualidade mais nobre da vida – a Amizade. Promovido a Aspirante FZ RN em 13 de Outubro de 1971, frequentou o curso de fuzileiro e foi destacado para Angola, onde chegou a 18 de Setembro do ano seguinte, com o posto de STEN, assumindo o comando do 3.º Pelotão da Companhia N.º 1 de Fuzileiros. No dia 2 de Junho de 1973, cerca das 08.00 horas, integrado numa coluna de viaturas do Destacamento do Zambeze em missão de serviço à Lumbala, foi alvo de uma emboscada inimiga.
Dessa emboscada, ocorrida na Picada entre Lumbala e Chilombo, a cerca de 10 Km desta última localidade, resultou a morte de António Piteira. O relato da tragédia dessa manhã, descrito no auto oficial então levantado, é suficientemente esclarecedor do heróico final de vida de António Piteira. Quiseram os seus amigos recordá-lo, trazendo à memória o legado de uma convivência diária com um Homem Bom, que a todos entristece por ter sido o escolhido para tão dramático fim. António Piteira ingressou na Armada, exactamente dez anos depois da minha incorporação em 1961. Nunca o conheci pessoalmente e já me encontrava na disponibilidade há quatro anos, quando ocorreu a sua morte. Não sinto qualquer dificuldade em lhe traçar este simples perfil, porque me tem bastado escutar quem o conheceu para me sentir à vontade para o escrever. Não é um perfil traçado por mim. São os que o conheceram que me transmitem o seu carácter e a sua personalidade. A simplicidade das palavras de Adelino Couto Rodrigues da Silva, seu camarada de curso e também fuzileiro, na passagem do 30.º aniversário da sua morte em 2003, são elucidativas: “Na passagem do trigésimo aniversário da sua morte, recordo-o com eterna saudade e grande emoção. Afirmo ter sido um privilégio conhecê-lo e usufruir da oportunidade de com ele privar e dele me ter tornado amigo. Tinha grande vontade de viver e o destino pregou-lhe uma partida. Este mundo louco tem destas coisas. Até sempre, camarada amigo. Um dia vamo-nos encontrar e retomar as nossas conversas, estupidamente interrompidas.”
Na Sala Reserva Naval da Escola Naval, a memória de António Piteira está definitivamente assinalada, sendo anualmente atribuído um Prémio que tem o seu nome, ao cadete que, de entre os seus pares e por votação secreta e universal de todos os alunos daquela Escola, manifestar ao longo de quatro anos as virtudes que se reconheciam no homenageado – Altruísmo, Camaradagem, Generosidade, Solidariedade e Simpatia.
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