António Bernardino Apolónio Piteira
(1947-1973)

 
 

In Memoriam assinala a figura de António Bernardino Apolónio Piteira, no 32.º ano da sua morte.

Único oficial da Reserva Naval morto em combate no período da guerra em África, recordado por quantos com ele iniciaram a caminhada na Armada, em 18 de Fevereiro de 1971, António Piteira integrou a Classe de Fuzileiros do 18.º CFORN.

A circunstância de ser acontecimento único na nossa História, seria, por si só, motivo para relembrar esse triste facto.

Mas não só. É que o simples mencionar do seu nome traz à memória dos camaradas que mais de perto o conheceram, a personalidade de um jovem que

profundamente marcou quem o conheceu. E curiosamente, não pela sua acção de forte liderança ou de imposição de vontade superior aos demais, mas apenas pela sua simplicidade e simpatia.

Normalmente, as recordações pessoais perduram quando assentam em acontecimentos relevantes que transformam a rotina de cada um, pela positiva, ou até quantas vezes pela negativa.

Raramente tendo a sua origem em actos de simplicidade, em manifestações de camaradagem, em amizade desinteressada ou na simples e contagiante alegria de viver.

Muito forte foi António Piteira, em vida, para manter entre os seus amigos o sentimento de tristeza e o carinho comovido que todos continuam a manifestar decorrido tão longo período.

Quantos o conheceram de perto traçam o retrato fiel da sua personalidade, mais do que usando adjectivos “difíceis”, apenas com o sentimento da saudade.

Natural da freguesia da Quinta do Jogo, do concelho de Arraiolos, onde nasceu em 11 de Outubro de 1947, era filho do Senhor Augusto da Silva Piteira e da Senhora D. Balbima Rita Apolónio.

Deu os primeiros passos, no ensino, nas Escolas da região e por aí se manteve até ingressar na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

A incorporação militar na Escola Naval interrompeu-lhe o contacto académico, iniciando-o numa nova fase a que se entregou com contagiante entusiasmo. Marcou camaradas e por estes foi promovido a figura de proa na qualidade mais nobre da vida – a Amizade.

Promovido a Aspirante FZ RN em 13 de Outubro de 1971, frequentou o curso de fuzileiro e foi destacado para Angola, onde chegou a 18 de Setembro do ano seguinte, com o posto de STEN, assumindo o comando do 3.º Pelotão da Companhia N.º 1 de Fuzileiros.

No dia 2 de Junho de 1973, cerca das 08.00 horas, integrado numa coluna de viaturas do Destacamento do Zambeze em missão de serviço à Lumbala, foi alvo de uma emboscada inimiga.

 

 

 

O Destacamento do Zambeze e a picada de Lumbala para o Chilombo

Dessa emboscada, ocorrida na Picada entre Lumbala e Chilombo, a cerca de 10 Km desta última localidade, resultou a morte de António Piteira.

O relato da tragédia dessa manhã, descrito no auto oficial então levantado, é suficientemente esclarecedor do heróico final de vida de António Piteira.

Quiseram os seus amigos recordá-lo, trazendo à memória o legado de uma convivência diária com um Homem Bom, que a todos entristece por ter sido o escolhido para tão dramático fim.

António Piteira ingressou na Armada, exactamente dez anos depois da minha incorporação em 1961. Nunca o conheci pessoalmente e já me encontrava na disponibilidade há quatro anos, quando ocorreu a sua morte.

Não sinto qualquer dificuldade em lhe traçar este simples perfil, porque me tem bastado escutar quem o conheceu para me sentir à vontade para o escrever.

Não é um perfil traçado por mim. São os que o conheceram que me transmitem o seu carácter e a sua personalidade.

A simplicidade das palavras de Adelino Couto Rodrigues da Silva, seu camarada de curso e também fuzileiro, na passagem do 30.º aniversário da sua morte em 2003, são elucidativas:

“Na passagem do trigésimo aniversário da sua morte, recordo-o com eterna saudade e grande emoção. Afirmo ter sido um privilégio conhecê-lo e usufruir da oportunidade de com ele privar e dele me ter tornado amigo. Tinha grande vontade de viver e o destino pregou-lhe uma partida.

Este mundo louco tem destas coisas.

Até sempre, camarada amigo. Um dia vamo-nos encontrar e retomar as nossas conversas, estupidamente interrompidas.”

 

 

Na Sala Reserva Naval da Escola Naval, a memória de António Piteira está definitivamente assinalada, sendo anualmente atribuído um Prémio que tem o seu nome, ao cadete que, de entre os seus pares e por votação secreta e universal de todos os alunos daquela Escola, manifestar ao longo de quatro anos as virtudes que se reconheciam no homenageado – Altruísmo, Camaradagem, Generosidade, Solidariedade e Simpatia.

 

José Pires de Lima
4º CEORN

 

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