Comandante Artur Manuel Coral Costa

 
 

O Comandante Artur Manuel Coral Costa, nasceu em 9 de Julho de 1924, tendo-se alistado na Armada em 6 de Setembro de 1943.
Foi promovido ao seu actual posto de Capitão-de-mar-e-guerra, em 2 de Setembro de 1974.
Frequentou a Faculdade de Ciências de Lisboa (1942/1943), completando o curso da Escola Naval entre 1943 e 1946, pertencendo ao curso D. JOÃO I.
Em 1948/1949 tirou o curso de especialização em Artilharia (A), na Escola de Artilharia Naval.
Continuou a sua formação, frequentando o curso de Defesa Atómica, Biológica, Química e Limitação de Avarias (ABCD), em Inglaterra, no ano de 1954.
Cursou também nos Estados Unidos da América, em 1955/56, no aperfeiçoamento em Artilharia Antiaérea (AA).
Em 1962/63, frequentou o Curso Geral Naval de Guerra (CGNG), voltando a Inglaterra, em 1974, para a frequência do Naval Tactical Course (TN/CI).
Foi Oficial de guarnição e Oficial Imediato de várias Unidades Navais, Instrutor da Escola de Artilharia Naval (1954/56),  integrou  a Missão de Recepção das Fragatas da “Classe Diogo Cão”, nos

Estados Unidos da América (1956/57), organizou e foi Director dos Cursos de Formação dos Oficiais da Reserva Naval (1958/1960), pertenceu ao Estado Maior da Armada (1963/67) e esteve na Embaixada de Portugal em Madrid, como Adido Naval (1970/73).
Teve os seguintes Comandos:
L/F “ALTAIR” (1948); PATRULHA “SANTO ANTÃO” (1960/63); CORVETA “CACHEU” (1967/69); FRAGATA “MAGALHÃES CORRÊA” (1973/75); INSTALAÇÕES NAVAIS DE ALCÂNTARA (1976/80)
O Comandante Artur Manuel Coral Costa é condecorado com a Medalha Militar de Prata de Serviços Distintos, Medalha Militar de Mérito Militar de 2ª classe, Medalha Militar de Ouro de Comportamento Exemplar, Comenda da Ordem Militar de Aviz, Medalha Comemorativa das Expedições das Forças Armadas (legenda Cabo Verde 1967/69), Medalha de Prata Comemorativa de V Centenário da Morte do Infante D. Henrique e Medalha de Mérito Naval de Espanha, de 1ª Classe, com Distintivo Branco.

 

 

A evocação do comandante Artur Manuel Coral Costa, abrindo esta “Galeria”, não é mero acto de retórica. Nele se corporiza a História da Reserva Naval. Como Director de Instrução do 1.º CEORN, em 1958 e, no ano seguinte, do 2.º, foi vigilante atento das matérias ministradas nos cursos, na sequência da tarefa de que fora incumbido superiormente.

Foi ainda com o comandante Coral Costa que acompanhou o 5.º CEORN na sua viagem de instrução, substituindo o Director de instrução deste curso, entretanto destacado para outra missão, o CTEN Paulo Belmarço da Costa Santos.

É o próprio comandante Coral Costa que nos conta a forma como recebeu essa missão, em entrevista recolhida para a Revista da AORN, em 1997. Nela, são-nos revelados também dados históricos acerca do início da Reserva Naval:

Na altura, os Quadros normais da Marinha não previam operações de guerra nas Províncias Ultramarinas. Isto quer dizer que qualquer oficial que destacava para Angola, Moçambique ou Guiné, era desligado do Quadro. Desta forma, dava-se uma consequente redução dos efectivos no Continente, com as evidentes dificuldades de preencher os lugares e posições que ficavam vagas.

O único pessoal que não desligava, era o dos navios e o dos Destacamentos de Fuzileiros. Capitães de Portos, Governadores de Província, Comandantes de Defesa Marítima e outros, eram desligados do Quadro.

Como se depreende, não havia Quadros para as necessidades exigidas por três frentes de combate.

Esta situação veio a verificar-se alguns anos mais tarde, mais precisamente três anos após a entrada, em 1958, do 1.º curso da Reserva Naval, podendo considerar-se a decisão de iniciar estes cursos como uma antecipação, ou previsão, de situações e cenários que vieram a ser realidade.

Estava eu a bordo da Fragata “Diogo Gomes”, como oficial Imediato; recebi, através do respectivo Comandante Basílio de Sousa Pinto, a indicação de que o Almirante Quintanilha me queria falar. Conhecia o Almirante Fernando Quintanilha desde a viagem do Aviso “Bartolomeu Dias” às comemorações da coroação da Raínha Isabel II de Inglaterra. Ele era então o comandante desse navio e eu o oficial chefe do Serviço de Artilharia. Mas não fazia a mais pequena ideia de qual seria o assunto sobre o qual ele me queria falar.

Dirigi-me ao Gabinete do Almirante Quintanilha, apresentei os cumprimentos normais e, com o feitio que se lhe conhecia, não perdeu tempo com grandes explicações. Deu um murro na mesa e disse-me: - Coral, vamos começar com a Reserva Naval.

Percebi, então, que qualquer pergunta que fizesse seria absolutamente extemporânea.

E disse: Pois sim, senhor Almirante.

E terminou ali a conversa.

Quando cheguei ao corredor, disse para comigo: O que será isto? Onde é que hei-de ir? E dirigi-me, penso, ao sítio certo.

Na 1.ª Divisão do Estado-Maior estava o Comandante Manuel Pereira Crespo, futuro Ministro, oficial que remodelou a Marinha em muitos aspectos, de grande valor, CMG na altura e muito meu amigo. Expliquei-lhe a situação e recebi algumas preciosas directivas.

Passaram-me para a Escola Naval, mas era em casa que trabalhava no assunto, dia e noite. Tinha um mês para fazer o trabalho.

Eu já tinha estado no estrangeiro, sabia mais ou menos os  planos de um curso desta natureza, o tempo que se leva a falar de certas matérias, de alguns pormenores importantes e acabei por fazer o Plano de Curso. Evidentemente que tive de recorrer a camaradas que me ajudaram em períodos muito especiais, como foi o caso da Navegação, em que foi fundamental o apoio do comandante Pinheiro de Azevedo. Era, aliás, uma matéria que ninguém acreditava  fosse possível ensinar em tão pouco tempo.

Refiro aqui outras colaborações que me foram dadas. Para as matérias de Máquinas recorri ao Eng.º Vila Real, também formado pelo Instituto Superior Técnico.

Nas matérias de Luta Anti-Submarina, ao tenente Virgílio de Carvalho; para as Comunicações, ao tenente Paulo Manuel Guerra Corujo; para as Informações de Combate, ao tenente João Encarnação Simões e para Administração Naval, aos tenentes Alfredo de Oliveira e Carlos Pereira de Oliveira.

Feito este estudo, extrapolei para seis meses, nem mais um dia. No total um ano e meio de serviço.

Na mesma entrevista, as razões porque o comandante Coral Costa decidiu oferecer à Reserva Naval o seu valioso espólio, constituído por uma Biblioteca de várias centenas de livros, nos quais se incluem, encadernados, todos os números da Revista de Marinha.

 

 

Também as suas fardas de gala e n.º 3, todas as condecorações descritas na sua biografia e a sua Espada.

Ao longo da minha vida e pelo curriculum que vos mostrei, conclui-se que mais de metade do tempo passei-o a bordo. Mais do que em casa. Penso que as minhas coisas, relacionadas com a vida de Marinha, não irão ter continuidade. Os livros que fui comprando, para os ler mais tarde quando houvesse mais tempo, terão possivelmente o destino da Feira da Ladra. Tudo são bocadinhos meus. Pensar que tudo iria, talvez, ser vendido a peso, era de facto um desgosto enorme.

Numa Biblioteca Nacional de Marinha iria passar despercebido. Num Museu, igual.

Eu tenho esperança que na vossa Associação, serão de facto apreciados. Com outra curiosidade, até porque de entre estes livros há alguns que são realmente bastante bons”

Estas confissões do comandante Coral Costa, na sequência da sua decisão de tornar depositária do seu espólio a Reserva Naval, representada na AORN, conhecedor do projecto de instauração de um Museu materializando a sua História, é prova da máxima simpatia e amizade que a ela dedicou desde sempre, e deverá conciencializar esta Associação para a responsabilidade que o acto representa.

 

                                                                

A. Andrade Neves - 2º CEORN, J. de Almeida Rezende, M. Andrade Neves,
J. Cavalleri Martinho e M. Paiva Pinto, todos do 1º CEORN, com o Comandante Coral Costa

 

O capitão-de-mar-e-guerra Artur Manuel Coral Costa, em 15 de Janeiro de 1998 teve oportunidade de se reunir num almoço, no Clube Militar Naval, com oficiais da Reserva Naval que pertenceram ao 1.º e 2.º CEORN’s.

Director de Instrução destes dois cursos, decorridos 40 anos desde o seu primeiro encontro, foi nesta data reactivada a ligação ao passado através de João de Almeida Resende, Manuel Andrade Neves, José Cavalleri Martinho e Manuel Paiva Pinto do 1.º curso e António Andrade Neves do 2.º, num acto de extrema simpatia e amizade.

Quem teve o privilégio de conhecer o Comandante Artur Manuel Coral Costa, ao longo da sua vida activa de marinha ou, já retirado, mantendo as suas ligações em religiosas deslocações ao Clube Militar Naval para almoços com amigos, guarda a imagem de um grande Senhor, profundo conhecedor da História da Reserva Naval e em permanente manifestação de orgulho por ter deixado o seu nome ligado ao sucesso da Reserva Naval.

 

José Pires de Lima
4º CEORN - 1961

 
 

© Copyright 2010 - AORN
Associação dos Oficiais da Reserva Naval
Desenvolvido por Manuel Lema Santos

webmaster:
webmaster@reserva-naval.com