1.º CEORN - Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval

 


Listagem completa do 1.º CEORN

A data de 11 de Agosto de 1958 marca o levantar ferro de uma enorme Esquadra chamada Reserva Naval.

Reorganizada pelo Decreto Lei nº 41399 de 26 de Novembro de 1957, quando era Presidente da República o General Francisco Higino Craveiro Lopes e Ministro da Marinha o Almirante Américo Thomaz, a Reserva Naval vê as condições de recrutamento e prestação de serviço dos reservistas estabelecidas pela Portaria nº 16714, de 27 de Maio de 1958, a que se seguiu, em Julho do mesmo ano, uma “Directiva do Estado Maior da Armada, dando forma ao funcionamento dos Cursos Especiais de Oficiais da Reserva Naval e à prestação de serviço dos reservistas que frequentarem esses cursos”.

Esta Directiva, publicada na Ordem do Dia à Armada nº 127 de 3 de Julho de 1958, determina que será de vinte o número limite dos mancebos (posteriormente designados Cadetes) a destacar pelo Ministério do Exército, para a frequência do 1º Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval (CEORN) de 1958-1959.

Era Chefe do Estado Maior da Armada, o Vice Almirante José Augusto Guerreiro de Brito e Ministro da Marinha, à data da incorporação deste curso, o Contra Almirante Fernando Quintanilha Mendonça Dias.

Catorze cadetes na classe de Marinha, dois na classe de Saúde Naval, dois na classe de Engenheiros Maquinistas Navais e dois na classe de Administração Naval, constituiram o primeiro ensaio de uma experiência que viria a permitir, pelo sucesso alcançado desde a primeira hora, que mais 65 Cursos se seguissem.

É este primeiro curso que ora se recorda, constituindo como que uma homenagem pela responsabilidade que lhe cabe na aceitação que, ao longo de mais de três décadas, a Reserva Naval mereceu da mais antiga Instituição Militar Portuguesa - a Marinha de Guerra.

Foi Patrono deste Curso, Duarte Pacheco Pereira, navegador e cosmógrafo, nascido em Lisboa (c. 1460-1533), que fez parte da delegação portuguesa que elaborou o Tratado de Tordesilhas, em 1494. O seu livro, “Esmeraldo de situ orbis” - escrito de 1505 a 1508, deixado incompleto e inédito até 1892, revela-o como um dos melhores representantes da escola náutica portuguesa.

Como todos os Cursos que se seguiram, teve este 1º CEORN o seu Director de Instrução, oficial dos quadros permanentes, com a responsabilidade de coodenar todas as actividades dos Cadetes, perseguindo o objectivo de melhorar e corrigir eventuais deficiências na instrução.

Foi Director deste Curso, o então 1º TEN Artur Manuel Coral Costa (nº 5, na foto), também responsável pela elaboração dos manuais das várias disciplinas ministradas, Oficial a quem tem sido dado o devido relevo e considerado, muito justamente, um dos maiores responsáveis pelo valor atribuído à Reserva Naval.

11 de Agosto de 1958 marca a arrancada para uma viagem que viria a revelar-se recheada de episódios que ajudaram a fazer a História da Marinha de Guerra Portuguesa, na 2º metade deste século XX.

O então Director e 1º Comandante da Escola Naval, Comodoro Manoel Maria Sarmento Rodrigues, na cerimónia de juramento de bandeira deste 1º Curso, em 2 de Março de 1959, finalizou a sua alocução com a seguinte frase: “... os que para cá vieram, sairão da Marinha mais homens, mais portugueses e terão, decerto, uma melhor compreensão do valor da Marinha e da sua gente. E, nas futuras missões que o destino lhes reservar, hão-de com certeza ser-lhes úteis os ensinamentos colhidos e saberão, por sua vez, ajudar a reinvidicar para a Marinha o lugar que lhe deve pertencer, dentro do conjunto das actividades nacionais.
E desta maneira, estaremos pagos, uns e outros, louvando a hora em que foi tomada tão feliz iniciativa“.

Premiando o esforço no aperfeiçoamento dos seus conhecimentos técnicos e qualidades militares e, por despacho do Ministro da Marinha, foi criado o “Prémio Reserva Naval” e na Ordem do Dia à Armada Nº 54, de 13 de Março de 1959, pode ler-se: “Sua Exª o Chefe do Estado Maior da Armada determina e manda publicar o seguinte:
"PRÉMIO RESERVA NAVAL: No ano de 1958-1959, foi atribuído o “Prémio Reserva Naval” ao cadete da classe de marinha da Reserva Naval Rogério Canas de Sousa Ferreira por ter sido o mais classificado na média de frequência escolar e classificação de carácter militar, na frequência do Primeiro Curso Especial de Oficiais da Reserva Naval."
Foi esta a primeira referência individual feita na O.D.A. a um cadete da Reserva Naval.

Seguiu-se, em 26 de Março, a publicação na O.D.A. Nº 63, da “promoção ao posto de Aspirante a Oficial, ficando dentro de cada curso colocados na escala de antiguidades pela ordem em que abaixo vão mencionados, a contar de 1 de Março de 1959, sendo nesta mesma ocasião alistados definitivamente na Reserva Naval os seguintes cadetes:

a) Classe de Marinha

Rogério Canas de Sousa Ferreira (nº 21, na foto)
Manuel Rui Guedes Salgado (nº 9, na foto)
Gabriel Ângelo Silos de Medeiros (nº 17, na foto)
Manuel Jaime Sampaio Andrade Neves (nº 7, na foto)
José Valente da Silva (nº 12, na foto)
José Eduardo Cardoso Trigo de Morais (nº 19, na foto)
Carlos Alberto de Oliveira Canelas Cardoso (nº 3, na foto)
José Manuel da Silveira e Castro Guerra (nº 18, na foto)
José Alvarez Cavalleri Martinho (nº 10, na foto)
Mário Alberto Duarte Donas (nº 4, na foto)
Armando Manuel Monteiro de Barros Pereira (nº 15, na foto)
Augusto Gonçalves Correia (nº 20, na foto)
Manuel António de Paiva Pinto (nº 16, na foto)
Luís Filipe Mendia de Castro (nº 1, na foto)

b) Classe de Saúde Naval (médicos)

José Augusto Palla Garcia (nº 6, na foto)
Manuel Ribeiro Couto (nº 13, na foto)

c) Classe de Engenheiros Maquinistas Navais

João Gomes de Almeida Rezende (nº 8, na foto)
Augusto Manuel Rodrigues Correia Pereira de Oliveira (nº 2, na foto)

d) Classe de Administração Naval

Rui dos Santos Martins (nº 11, na foto)
José Nunes Rodrigues (nº 14, na foto)

 
 

 
 

Um ano mais tarde, em 1 de Março de 1960, apreciados por um Conselho de Promoções de que faziam parte o Capitão de mar e guerra João Chaves Ubach, o Capitão de mar e guerra Diogo José Leite Pereira de Melo e Alvim e o Capitão de fragata da R.A. José Mendes da Rocha Zagalo, estes Aspirantes foram promovidos ao posto de Sub-tenente das várias classes da Reserva Naval iniciando, a partir desta data, o processo de licenciamento e a consequente passagem à disponibilidade.

No entanto, de entre estes, Gabriel Silos de Medeiros, José Cavalleri Martinho e Carlos Alberto Canelas Cardoso, manter-se-iam no serviço activo, sendo promovidos, a partir de 1 de Março de 1961, ao posto de 2º TEN RN. Foram estes os primeiros Oficiais da Reserva Naval a atingir aquela patente.

Canelas Cardoso viria a ingressar, posteriormente, no quadro de Serviço Especial, mantendo-se nele até atingir o posto de Capitão de mar e guerra.

Os Contra Torpedeiros “TEJO”, “DÃO”; “LIMA” e “VOUGA”, e as Fragatas “CORTE REAL” e “PERO ESCOBAR” receberam os Aspirantes deste Curso, constituindo o grupo de Navios onde pela primeira vez Oficiais da Reserva Naval prestaram serviço.

Dezenas de outras Unidades tiveram nas suas guarnições, ao longo dos anos, muitas centenas de Oficiais RN.

Seria no Draga Minas “VILA do PORTO”, segundo publicação da Ordem do Dia à Armada Nº 107 que, em 25 de Maio de 1959, o Aspirante RN Luís Filipe Mendia de Castro assumiria, nos termos do artigo 628º da O.S.N., as funções de Comandante, durante o impedimento, por motivo de serviço, do respectivo Comandante.

Era Comandante deste navio, nesta data, o 1º Tenente Manuel José da Costa Souto e Moura.

Luís Mendia de Castro tornou-se assim o primeiro Oficial da Reserva Naval a exercer funções de comando num navio da Armada.

A fragata “PERO ESCOBAR” tornou-se um símbolo na História da Reserva Naval, por ter sido o primeiro navio onde embarcaram, para a viagem de instrução, os cadetes do 1º CEORN. Itália seria o destino desta viagem.

Aliás seria, esta uma das unidades que recebeu os Aspirantes Sousa Ferreira, Castro Guerra e Paiva Pinto, no primeiro destacamento de Oficiais RN para navios da Armada.

Mantendo-se ao serviço, após a promoção a Aspirante, pelo período de mais doze meses, passou este grupo que constituiu o 1º CEORN por diversos outros navios e unidades.

Os navios patrulhas São Nicolau, Santa Luzia, Sal, Brava, Fogo e S. Vicente, os draga-minas, São Roque, Pico, Graciosa, Rosário, S. Jorge, Corvo e Santa Cruz e as lanchas Corvina e Dourada, foram algumas das unidades por onde passaram estes Oficiais RN.

O Hospital da Marinha foi cenário de prestação de serviço dos médicos deste Curso.

A Ordem do Dia à Armada Nº 27, de 4 de Fevereiro de 1960, refere, pela primeira vez na História da Reserva Naval, a concessão de uma “MENÇÃO DE APREÇO” pela actuação do Aspirante RN Manuel António de Paiva Pinto, da guarnição do Navio Patrulha “S. Vicente”, em serviço no Comando Naval dos Açores, pela classificação obtida nas provas de pistola e de espingarda de guerra, no campeonato de tiro do Comando Militar do Arquipélago. Valeria ainda este “feito”, cinco dias de licença especial.

E, como registo de curiosidades relacionadas com o 1º CEORN, a O.D.A. Nº 39 de 22 de Fevereiro de 1960 confirma que o Aspirante RN de Administração Naval José Nunes Rodrigues, foi o primeiro Oficial da Reserva Naval a pedir para ser submetido a exame complementar de condução auto de viaturas ligeiras e que o Aspirante RN Andrade Neves foi o primeiro a encontrar-se na situação de doente, conforme publicou a O.D.A. Nº 83 de 23 de Abril de 1959.

Este relato breve, de factos vividos nos primeiros anos da Reserva Naval, não pretende ser mais do que o recordar de um grupo de vinte jovens que, pela sua actuação ao longo de dezoito meses, permitiu que a Marinha de Guerra reconhecesse a valia da decisão de incorporar entre os seus operacionais, oficiais não oriundos dos cursos tradicionais da Escola Naval.

É neste 1º CEORN do ano de 1958 que a Reserva Naval assenta a sua História e, foi com origem nele, que mais de 3.000 outros jovens tiveram a possibilidade de conhecer a realidade do Mar e da instituição militar Marinha, a ele ligada.

Uma lembrança especial para aqueles que deste 1º Curso a lei da vida já traçou o destino e, se este relato avivar a memória dos que com eles mais de perto conviveram na Armada, teremos certamente contribuído para lhes prestar uma homenagem sentida.

 

 
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