No passado dia 14 de Junho, por ocasião do 16.º Aniversário da AORN Associação dos Oficiais da Reserva Naval, no Museu de Marinha, Pavilhão das Galeotas, com a presença do Vice-Almirante José Augusto Vilas Boas Tavares, Director da Comissão Cultural de Marinha, diversas Entidades e Convidados, foi apresentado a edição "Anuário da Reserva Naval, 1976-1992". A apresentação da obra foi efectuada pelo Comandante Adelino Rodrigues da Costa que, na ocasião, dirigiu as seguintes palavras às personalidades e convidados presentes: "Foi com muito agrado que aceitei o convite que me foi dirigido pela AORN para apresentar o Anuário da Reserva Naval, nesta edição que regista e identifica o vasto conjunto de homens que, entre 1976 e 1992, serviram a Reserva Naval e a Marinha. A minha aceitação desta tarefa resultou essencialmente da admiração pessoal que tenho pelo Manuel Lema Santos, o autor deste trabalho – que desde já felicito vivamente –, pela dedicação, persistência e seriedade como conduziu as suas pesquisas em fontes informativas muito dispersas, que não eram fáceis, nem isentas de contradições. Porém, houve outras razões adicionais para que eu aceitasse este honroso convite. Uma delas é de natureza emocional. De facto, tenho mantido uma ligação muito próxima à Reserva Naval, bem como a muitos dos seus elementos e às suas memórias navais, porque entre 1968 e 1974 tive o privilégio de ter sido instrutor de sete CFORN – Cursos de Formação de Oficiais da Reserva Naval, além de muitos desses oficiais terem sido meus companheiros em diversas situações, nomeadamente em Moçambique e, sobretudo, nas barras e nos rios da Guiné. Para além disso, também entendi que este convite me dava a oportunidade de louvar uma vez mais a AORN pelo trabalho que tem desenvolvido em prol da Marinha e de prestar a minha modesta homenagem aos seus primeiros presidentes da Assembleia Geral e da Direcção, que prematuramente nos deixaram e que aqui evoco com saudade – Ernâni Rodrigues Lopes e António Henrique Rodrigues Maximiano. O Anuário da Reserva Naval que hoje é apresentado, constitui um notável trabalho que resulta da laboriosa actividade do seu autor e, naturalmente, de uma pesquisa documental muito vasta. Creio estar em condições de fazer esta afirmação porque, há cerca de vinte anos, eu próprio passei por uma experiência semelhante à que viveu o Manuel Lema Santos e, portanto, sei por experiência própria, que neste tipo de pesquisa se sucedem muitas dificuldades e que há muitos obstáculos e lacunas de informação nos documentos que se consultam. Assim se consomem tempo e paciência que, por vezes, quase bloqueiam o andamento do trabalho e desesperam quem assumiu o desafio de chegar a um resultado final. Por isso, embora as 116 páginas do Anuário da Reserva Naval nos possam sugerir uma ideia de facilidade ou de simplicidade, o facto é que essas páginas correspondem a um labor aturado e exigente de pesquisa e de selecção de informações, assim como de atenta resolução de muitas dúvidas e contradições. Esta edição do Anuário vem revelar-nos uma nova visão do que foi a Reserva Naval e é um notável contributo para a preservação da sua memória histórica e da sua relação com a Marinha. Por vezes, há a tendência para identificar a Reserva Naval com o período de 1958 a 1975, quando a previsão da guerra em África e as hostilidades que se mantiveram por 13 anos na Guiné, em Angola e em Moçambique, levaram a Marinha a procurar na sociedade civil e, em particular nas universidades, os homens que vieram reforçar os seus quadros, que comandaram lanchas de fiscalização, que embarcaram em todos os tipos de navios, que integraram os destacamentos e companhias de fuzileiros e que, de uma forma mais geral, deram um importante contributo para um certo rejuvenescimento e modernização da Marinha. Se o contributo da Reserva Naval foi um facto que tanto valorizou a Marinha, a inversa também é verdadeira. Esses jovens de formação universitária também se valorizaram através da sua integração temporária na Marinha e dos conhecimentos que adquiriram sobre a organização e a cultura da corporação e, hoje, nas suas actividades e nas suas vidas, mantêm com orgulho essa marca marinheira. Porém, este trabalho do Manuel Lema Santos revela-nos que, a partir de 1976 e já com as páginas da conflitualidade colonial encerradas, a Marinha decidiu continuar a procurar na sociedade civil um reforço de quadros e de especialistas de que necessitava para acompanhar as exigências da sua adaptação aos novos contextos operacionais, mas também às novas realidades democráticas e às suas mudanças políticas, sociais e, sobretudo, tecnológicas. Nesse período decorrido entre 1976 e 1992, a Marinha incorporou 1885 oficiais cuja formação decorreu na Escola Naval ou na Escola de Fuzileiros, salientando-se que 414 se destinaram à classe de Marinha, 249 à classe de Médicos Navais, 484 à classe da Especialistas, 50 à classe de Técnicos, 666 à classe de Fuzileiros, 11 à classe de Engenheiros Construtores Navais e 11 à classe de Farmacêuticos Navais. Estes números mostram que, embora num contexto operacional bem diferente do que acontecera entre 1958 e 1975, a Reserva Naval continuou a prestar importantes serviços ao País, através da nossa Marinha. A edição que hoje nos é apresentada sumaria o historial da Reserva Naval entre 1976 e 1992, com uma detalhada descrição da evolução dos cursos realizados e uma elaborada Síntese Legislativa, que inclui a principal legislação publicada ao longo desse período, que foi muitas vezes alterada em função das necessidades da corporação e constitui um importante auxiliar para fundamentar futuros estudos sobre este tema. Depois, o Anuário identifica os cursos e os cadetes das várias classes que os frequentaram, com a indicação das suas datas de nascimento, de alistamento e de promoção a Aspirante, constituindo uma notável base de dados que, até agora, não estava disponível. Na sua parte final o Anuário da Reserva Naval inclui Informações Adicionais, onde se incluem diversas listagens – Comandantes da Escola Naval e da Escola de Fuzileiros, Directores de Instrução dos vários cursos, Prémios Reserva Naval atribuídos – e, ainda, uma interessante resenha ilustrada do nosso dispositivo naval entre os anos de 1976 e 1992, com uma apresentação inspirada nos Jane’s Fighting Ships. Finalmente, para além do seu conteúdo objectivo, deve ser salientada a excelência da apresentação gráfica do Anuário, que muito o valoriza. Assim, o Manuel Lema Santos está de parabéns e é credor do reconhecimento da AORN e da Marinha, pelos resultados que obteve e pelo livro que hoje nos apresenta. O Anuário é, portanto, um valioso repositório de informações sobre a Reserva Naval. Um dia, tal como hoje sucede com os registos do Arquivo Histórico da Biblioteca Central da Marinha e com as saudosas Listas da Armada, os Anuários da Reserva Naval serão um instrumento indispensável para a pesquisa histórica e para o conhecimento do que foi a Marinha na segunda metade do século XX, mas também do importante papel que os oficiais da Reserva Naval – mais de três mil – tiveram na sua na sua estrutura administrativa, técnica e operacional. E nesta sala, que com as suas galeotas e aeroplanos nos evoca algumas das facetas mais simbólicas da nossa herança cultural marinheira, eu ouso perguntar se a Marinha podia ter sido uma prestigiada corporação e uma referência institucional da sociedade portuguesa, sem o enriquecedor contributo da Reserva Naval. E ouso, também, dar a resposta: Poder, podia, mas não era a mesma coisa! Adelino Rodrigues da Costa Lisboa, 14 de Julho de 2011 |